
O que é a Psicologia Analítica ou Junguiana?
A Psicologia Analítica ou Junguiana, é uma abordagem terapêutica desenvolvida por Carl Gustav Jung que, em resumo, busca compreender e integrar os aspectos conscientes e inconscientes da psique humana. Focada no processo de individuação, a psicologia analítica utiliza arte, símbolos, mitos, sonhos e a exploração do inconsciente coletivo para promover o crescimento pessoal e a realização do potencial individual.
Conheça o fundador C. G. Jung

Carl Gustav Jung (1875-1961) foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço, fundador da Psicologia Analítica. Jung foi um dos principais pioneiros da psicologia do século XX e é conhecido por suas teorias sobre o inconsciente, incluindo os conceitos de inconsciente coletivo, arquétipos e individuação. Além de sua formação em medicina e psiquiatria, Jung tinha profundo interesse por diversas disciplinas, incluindo filosofia, antropologia, arqueologia, literatura e religião. Ele falava vários idiomas, como alemão, inglês, francês e latim, o que lhe permitiu acessar e integrar uma vasta gama de conhecimentos em seus estudos e escritos. Jung também realizou extensas pesquisas sobre mitologia, alquimia e simbolismo, buscando compreender os padrões universais da experiência humana. Ele viajou para várias partes do mundo, incluindo África, Índia e América do Norte, para estudar culturas e tradições espirituais diversas. Suas viagens e pesquisas contribuíram significativamente para o desenvolvimento de suas teorias sobre o inconsciente coletivo e os arquétipos. Além disso, Jung foi um escritor prolífico, publicando inúmeros livros e artigos que influenciaram profundamente a psicologia, a psicoterapia e as ciências humanas em geral. Seu trabalho continua a ser estudado e aplicado em diversas áreas, incluindo psicoterapia, estudos culturais, arte e literatura. Ele foi contemporâneo de Sigmund Freud e ambos trabalharam juntos, mas ao longo do desenvolvimento de suas ideias ocorreu um distanciamento entre eles.
Conheça a Abordagem Junguiana

A terapia junguiana promove autoexpressão e maior compreensão de si através das interações entre terapeuta e cliente. Em vez de oferecer orientações para situações específicas, ela auxilia no autoconhecimento, permitindo uma abordagem mais consciente e saudável na busca de objetivos de vida e autodesenvolvimento. Diferentemente de outras abordagens que seguem manuais com etapas predefinidas, muitas vezes reduzindo a complexidade humana a causa e efeito, os atendimentos junguianos são adaptados às necessidades individuais. O processo é vivo, acompanhando os movimentos da psique à medida que terapeuta e cliente se tornam mais conscientes de novos aspectos, guiados pelo progresso do próprio processo terapêutico. Para Jung, o inconsciente é um aliado valioso no desenvolvimento psicológico, fornecendo sabedoria e orientação. O processo terapêutico visa revelar conteúdos inconscientes ocultos sob medos, desejos, defesas e conflitos internos. A terapia junguiana busca o bem-estar integral da personalidade, observando os sintomas como indicadores de algo valioso que está escondido, em vez de simplesmente reduzir e "resolver" esses sintomas. O objetivo principal é a individuação, um processo contínuo que promove o diálogo e a colaboração entre os diversos aspectos da personalidade, proporcionando harmonia, autenticidade e desenvolvimento dos aspectos individuais e coletivos. A individuação ajuda os indivíduos a se distinguirem dos outros enquanto cooperam com eles, equilibrando os aspectos conscientes e inconscientes da psique, promovendo crescimento psicológico e saúde mental. Segundo Jung, quando a inclinação natural para a individuação é bloqueada, podem surgir problemas de saúde mental como ansiedade, depressão, padrões de relacionamentos tóxicos e vícios. O processo terapêutico envolve a exploração de necessidades de crescimento pessoal, como autoridade, humildade, independência, relacionamento, significado e praticidade. Jung percebeu que a linguagem metafórica e simbólica, bem como desenhar, esculpir, compor e dançar, são formas valiosas de acesso ao inconsciente, servindo de base para a evolução de diversas outras terapias artísticas expressivas. A terapia junguiana acolhe práticas religiosas ou espirituais. Embora Jung encorajasse alguns pacientes a encontrar significado em suas religiões de origem, ele reconheceu que as religiões tradicionais nem sempre forneciam estabilidade ou inspiração. Nesses casos, é necessário buscar uma fonte individual de significado que oriente o desenvolvimento a longo prazo e a vida diária. Muitos encontram esse significado na busca pela totalidade psicológica, integrando e harmonizando tantos aspectos da personalidade quanto possível. Uma revisão no American Journal of Psychiatry[1] considerou a terapia junguiana tão eficaz quanto a terapia cognitivo-comportamental e medicações no tratamento de sintomas. Uma análise de estudos[2] sobre a eficácia da terapia junguiana revelou que: - Todos os estudos mostraram melhorias significativas em sintomas, comportamento e problemas interpessoais, bem como na estrutura da personalidade. - Essas melhorias persistem até seis anos após a conclusão da terapia. - Pacientes continuam a melhorar após o término do tratamento. - Dados de seguros de saúde indicam que após a terapia junguiana, os pacientes utilizam menos cuidados médicos do que a maioria das pessoas. - O tratamento junguiano não só alivia sintomas graves, mas também melhora o bem-estar psicológico geral. - Essas mudanças ocorrem em uma quantidade de sessões que destaca eficácia e a economia da psicoterapia junguiana. [1] Steinart, C., Thomas Munder, Sven Rabung, Jürgen Hoyer, Falk Leichsenring. (2017). Psychodynamic Therapy: As Efficacious as Other Empirically Supported Treatments? A Meta-Analysis Testing Equivalence of Outcomes. American Journal of Psychiatry, 174(10), 943-953. doi:10.1176/appi.ajp.2017.17010057) [2] Roesler, C. (2013). Evidence for the Effectiveness of Jungian Psychotherapy: A Review of Empirical Studies. Behavioral Sciences, 3(4), 562-575. doi:10.3390/bs3040562
Por que Jung?

O que despertou minha vontade de estudar Jung foi a espiritualidade ser parte fundamental no processo de desenvolvimento humano em sua psicologia, que se destaca por ser capaz de compreender a multiplicidade humana, e por isso consegue envolver no processo terapêutico o corpo, expressões artísticas, imaginação, espiritualidade, etc. Em contraste com a atual obsessão pelo pensamento racional e literal, a teoria junguiana resgata o poder do pensamento imaginal e simbólico, que está presente em toda história da humanidade, como nos sonhos, nos mitos, nas religiões e nos contos de fadas. Jung desenvolveu conceitos originais muito importantes no campo da psicologia, como persona, sombra, inconsciente coletivo e arquétipo. Ele nos ensina a sustentar a tensão entre as dualidades, aproximar e integrar polos opostos, transcender polarizações, e muito mais.
A Minha Abordagem

Outros pontos da teoria junguiana que gosto de destacar, além dos pontos da seção anterior, são que as questões que aparecem em um indivíduo são também coletivas, pois envolvem aspectos da época, cultura, e história da humanidade. Para Hillman, a terapia individual não deve ignorar as questões sociais pois impactam diretamente o indivíduo. Individualidade e coletividade são duas partes de uma mesma moeda, talvez seja necessário incluir no processo individual a retomada do sentimento comunitário. Por isso acredito que precisamos refletir se é possível ficar bem individualmente quando socialmente: - vivemos uma hiper conectividade com um crescente senso de isolamento e desconexão; A tirania da positividade e felicidade nega parte da realidade, e assim causa grandes danos colaterais; O consumo desenfreado e a busca por satisfação material mascaram urgências emocionais; A pressão por desempenho e produção esgota o tempo e energia necessários para reflexão.